Linhas de Pesquisa

Indivíduo e Trabalho: Processos Micro-Organizacionais

Importantes transições vêm marcando, nas duas últimas décadas, a investigação e a compreensão dos fenômenos organizacionais e, especialmente, a interface entre seus diferentes níveis de apreensão e análise. Tais mudanças, crescentemente, assinalam a natureza socialmente construída do fenômeno que chamamos organização e, em decorrência, enfatizam o papel dos indivíduos e dos processos de interação social na sua ontogênese e dinâmica. Consolida-se, assim, o entendimento de que quaisquer processos organizacionais, inclusive as decisões que configuram as suas políticas e estratégias de gestão, podem e devem ser analisados considerando-se a ótica dos atores enquanto sujeitos individuais e coletivos, simultaneamente. O foco central da presente linha de investigação consiste, precisamente, em analisar como interagem os processos nestes dois níveis – individual e coletivo - na configuração de ambientes de trabalho singulares e na determinação de padrões organizacionais mais ou menos saudáveis para indivíduos e coletivos organizados em torno de missões e objetivos. Assim, questões associadas à saúde psíquica, à qualidade dos vínculos que articulam as pessoas, à qualidade de vida no trabalho, aos impactos dos modelos de gestão, aos processos de mudança, reestruturação e rupturas que marcam as trajetórias – tanto individuais como organizacionais – tornam-se fenômenos concretos que ensejarão a investigação de como os mecanismos psicossociais neles envolvidos configuram, em íntima articulação, indivíduos, organizações e o próprio contexto em que estes se movimentam. Tal concretização dar-se-á tendo como pano de fundo as transformações que vêm marcando o mundo do trabalho e exigindo das organizações e dos indivíduos novos padrões de significação da sua atividade laborativa e novas regras de convivência e relações no interior das redes que definem a identidade de cada empreendimento organizacional. Assim, em um sentido amplo, os projetos de pesquisa deverão voltar-se para compreender o papel das pessoas – nos diferentes papéis que podem desempenhar – como construtoras de organizações e como tal construção retroage sobre o próprio trabalhador, afetando a sua identidade, os seus modos de vida e de existência e a sua saúde psicológica, em particular.
 
 

Cognição Social e Dinâmicas Interacionais

A tradição de pesquisa em Psicologia Social tem produzido discussões e conhecimentos acerca da relação indivíduo/cultura/sociedade. Tais discussões tem produzido polêmicas em torno de bases epistemológicas do conhecimento produzido na área, tomando-se como referência estudos produzidos com bases mais “individualizantes” da influência do social sobre os comportamentos, vindos da tradição anglo-americana e que tem como uma das teorias mais correntes aquelas identificadas como Estudos de Cognição Social. Por outro lado, são atuais, também, tratando da mesma relação, os estudos inseridos na denominada psicossociologia francesa e aqueles que assumem pressupostos das perspectivas histórico-culturais, os quais são referidos como tendo bases mais “socializantes Alia-se a esta abordagem o enfoque da psicologia cultural, que coloca a centralidade da cultura nas mentes humanas, dando significado às ações, e que constrói uma via de aproximação com a Linha de Pesquisa Transições Desenvolvimentais e Processos Educacionais e, consequentemente, com a outra área de concentração do Programa. Inserindo-se nesta discussão, esta linha de pesquisa se propõe a desenvolver estudos que propiciem reflexões e esclarecimentos acerca de questões epistemológicas e metodológicas que cercam esta questão. Dentro da primeira perspectiva, tem sido desenvolvidas pesquisas acerca dos esteréotipos de minorias (negros, portadores de HIV, estrangeiros, mulheres etc.), as quais têm possibilitado uma interlocução com os resultados de estudos realizados a partir da segunda perspectiva, que se referem ao estudo de representações e significados de infância, família, casamento, homossexualidade, violência nas suas mais variadas formas e instituições que se propõem a combatê-la etc. A linha de pesquisa se propõe não só a produzir uma compreensão mais aproximada dos objetos em estudo, mas também contribuir para a discussão dos fundamentos epistemológicos do conhecimento produzido.
 
 

Contextos de Desenvolvimento, Clínica e Saúde

Esta linha de pesquisa reúne pesquisadores/as que se dedicam ao estudo dos aspectos clínicos do processo-saúde-cuidado em contextos de desenvolvimento, utilizando abordagens teóricas - psicanálise, psicologia social construcionista, análise do comportamento, entre outras - e metodológicas diversas, tendo como horizonte ético-político o fortalecimento das políticas públicas do Sistema Único de Saúde (SUS), da produção de conhecimento na área, bem como o exercício profissional de excelência em contextos de atuação diversos. Agrega estudos sobre saúde de crianças, adolescentes  e/ou adultos, no que concerne a processos intersubjetivos e comportamentais, considerando categorias como gênero, classe social, raça/etnia e práticas culturais, para compreensão e manejo de temas como: saúde mental e cuidado; clínica do sujeito, sintoma e tratamento; luto, sujeito e subjetividade; violência, família;  práticas psicológicas e formação em saúde; processos educacionais e saúde; saúde mental e universidade; práticas clínicas e psicossociais em níveis de assistência à saúde.

 

Transições Desenvolvimentais e Processos Educacionais

Os estudos desenvolvidos nessa linha de pesquisa têm focalizado a família e as instituições educacionais enquanto contextos de desenvolvimento, o desenvolvimento em situação de risco, intervenções junto a famílias e instituições educacionais, e os conceitos de família, infância e educação. Essa temáticas têm sido abordadas em diferentes contextos históricos e sob diferentes perspectivas teórico-metodológicas (Psicologia Evolucionista, Teoria do Apego, Teoria da Aprendizagem Social, Psicanálise, Psicologia Cognitiva, modelos das neurociências e Psicologia Cultural). Essas áreas de pesquisa articulam-se pelo esforço em descrever processos e mecanismos relacionados com a ontogenia individual em contexto, considerando também fatores ecológicos, biológicos, sociais e histórico-culturais. 
As pesquisas conduzidas nessa linha podem ter repercussões para a formulação de políticas públicas, na medida em que elucidam nexos causais entre experiências e desenvolvimento atual e futuro, tanto no nível da prevenção, supondo continuidade nos processos de desenvolvimento, quanto em outros níveis, supondo descontinuidade, rupturas e reorientações. Assim, é possível antever uma produção de conhecimentos capazes de subsidiar políticas e práticas na atenção à infância e a outros grupos etários em transição desenvolvimental, em contextos de educação e atenção à saúde.

 

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